domingo, 15 de agosto de 2010

O tempo não pára. Ele não espera.

No ápice da loucura costuro asas. Discordo do sistema, refaço frases.
Derrubo muros e rabisco paredes, contando meus versos aos paralelepípedos.
O tic-tac zomba da inocência; da meninice no meu corpo de mulher.
Ouve-se ao longe o soar dos sinos; suas gargalhadas frenéticas abafam o clamor do profeta que suplica para que o sol pare por alguns instantes.
Oh tempo! Rude tempo...
Cônscio de sua imortalidade envaide-se o tirano; faz desabrochar o botão e na plenitude de sua beleza em flor, faz desfalecer suas pétalas.
Corrompe-se em glória o bárbaro à dor da minha saudade. Precipita-se velozmente me arrastando com ferocidade; em suas infindas asas atravesso vales de lírios. Contemplo o choro de um rio... Que se deságua em lágrimas em busca do imenso mar... E, o vento com sua valsa estonteante abraça a montanha silenciosa... Sozinha sou deixada no cume de uma montanha, ao sabor da chuva, ao cheiro da relva, desfalecida nos braços da solidão... De joelhos, prostrada, ergo meus braços ao céu e grito seu nome:
Onde está você, amor???
Ao longe se ouve meu suplício que atravessa o desfiladeiro. Chilrea a cotovia e sinto esmorecer a esperança de te encontrar um dia.  Mas sua lembrança é uma chama de esperança que renasce em mim.
E sussurro: Preciso de você...
A noite vestiu seu longo vestido negro. Vaidosa ataviou os cabelos com seu véu escarlate e num tom desprezível dispensou o luar. Não sei se por pena de mim...  Ou pra que não me visse chorar...
E na penumbra se vê um brilho opaco e sem vida, uma drácma perdida, uma algema de ouro no meu dedo anular. Está cravada a espera de um guerreiro, único capaz de tocar a Escalubur.
No seu castelo de areia com portões de ferro, uma silhueta bela, pela janela contempla o infinito. Um grito mudo, de um silêncio insuportável ecoa na imensidão dos seus jardins suspensos.
Então o vento se compadece e viaja com pressa o mensageiro. Leva consigo uma fagulha, uma chama... Uma canção de quem ama... Embalados numa etérea melodia.
Sendo longa a viagem descansa, até o vento se cansa, de longínquo que é. Mas logo se apressa e, na busca incessante deste amor a natureza se enfurece... Os raios imponentes com seus clarões assustadores recortam os céus impiedosamente num misto de terror e beleza.
E de repente!
O clarão de um raio avista você!
O mundo pára!
O vento sinfonicamente te chama... Em soluços implora...
Uma expressão indecifrável circunda seu olhar...
Olha rapidamente de um lado para o outro. Os lábios se estreitam, parecem querer dizer algo, mas nada dizem.
Será que você não vem...?
Talvez tenha outro alguém...
E, baixando os olhos, tristonho e com feição de derrota, o vento alça seu vôo, sempre afobado tem que soprar. O tempo não espera...
Será que você não vem...?
Que seu coração ouça meu chamado, que sinta a doce carícia da brisa que carrega consigo o amor transcrito em partitura, para sussurrar em seus ouvidos tudo que está adormecido pra acordar quando você chegar...  Antes que os olhos do tempo descortinam-se em escuridão, num piscar lento e doloroso...