Os olhos muram a distância que se
fez em nós.
Ainda que a mão possa tocar esse banco,
onde te sentas
a olhar um jardim de flores mortas.
A cor do desejo já não fulgura na pele.
Há um frio que dói nos ossos.
A mão do sol já não afaga nem aquece o dia.
Já não é dia, nem há dias.
Há apenas um tempo sem destino.
Horas mortas.
Anoiteceu. Uma noite eterna que te cega.
Abandono a paisagem de mim,
que penduras com zelo
nos escombros do que já foi morada,
onde se ouvia uma melodia que já ninguém toca.
Tornei-me leve,
sem esse corpo ao qual te aferras e não soltas.
Já não sou corpo, nem há corpo.
Sou asa de pássaro a rasgar o céu
em direção ao horizonte onde os azuis se misturam.
Não me chames. Não te ouço, nem te vejo.
Já não há ouvidos, nem olhos.
Não tenho frio, nem sinto fome.
Há apenas sede.
Uma sede de mergulhar as penas nesse azul imenso
...e ser mar.
Sónia M