terça-feira, 15 de agosto de 2017

Murmúrios da Alma


Ia sair com as amigas. Combinamos um passeio pelo shopping, com direito a happy hour. Coloquei uma roupa legal, fiz uma maquiagem suave e me agradei do que o espelho refletia, apesar da tristeza de alguns meses hospedada no meu coração. Terminar um relacionamento nunca foi fácil, mas aquilo já vinha se arrastando há tempo demais. Por que não diminuía a intensidade da dor? E era mais doloroso fingir que eu estava superando, quando, na verdade, parecia que eu tinha um cupinzeiro fazendo túneis no meu peito. Ia passar, ia passar...tudo passa. É questão de tempo, só de tempo. Mas que droga de tempo é esse tão lerdo??? Olhei em volta, meu quarto antes arrumado, muito menina, bem Poliana, estava um caos. Faltava-me ânimo para fazer qualquer coisa. Se me deixassem, ficaria deitada , olhando para o vazio do teto, relembrando tudo, num masoquismo besta de uma saudade insana. Como eu havia sido feliz!!! Nunca amei tanto alguém! Talvez esteja aí o meu grande erro: ter lhe dado a segurança do meu amor, a certeza do meu sentimento. Fui verdadeira, fui intensa... fui boba. Ah, não fui, não fui, não. Se é preciso jogar com alguém, a relação não vale a pena. Mas se eu pudesse voltar no tempo, se eu soubesse o que eu sei agora...Ah, não teria mudado nada, não é mesmo? Quando a gente quer alguém, a gente corre atrás, a gente insiste, a gente não desiste. Não foi assim. Não deu certo, não deu. Pronto...Eis o que me incomoda, o que mais me machuca: a indiferença, o tanto faz, o não me importo. Olho para o espelho, as lágrimas escorrem, manchando a maquiagem. Na verdade, não sinto a menor vontade de sair, de conversar, de ver alguém. Queria ficar deitada, olhando para o vazio do teto... E o que isso vai fazer mudar? Nada. O telefone toca, são elas, perguntando o porquê da demora. Digo que já estou descendo. Retoco, às pressas, a maquiagem, dou um suspiro profundo e percebo que lá fora a tarde azul e morna espera mesmo que eu saia. Fecho a porta do quarto. Ainda hoje vou dar uma arrumada nele. Quem sabe não é um bom começo? Arrumo o quarto hoje; amanhã, o coração... 


Por: Anne Mahin - Murmúrios da Alma











Um comentário:

  1. Eu sei como é. Também desistí de nós...E como é difícil deixar o tempo se encarregar de amornar o que foi tão intenso.

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